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quinta-feira, 8 de junho de 2017

Uma nova MARGEM

Já conheço esta margem...já percorri todos os cantos, já a experimentei de todas as maneiras, em frente, de lado, para trás e para a frente, do lado de dentro e do avesso, com os pés no chão e a cabeça no ar, com a cabeça enterrada e os pés a girar...
Já a respirei, inspirei, incorporei...já a ri, já a chorei, já a gritei, de amor e de dor, mas sobretudo de dor. Uma dor a que não quero voltar, mas que tanto me fez aprender e evoluir.
E agora que a penso, admito, numa paz profunda e crua, que tive vergonha da minha dor, que a achava triste e que precisava de ser escondida...
E talvez por isso as palavras que antes escrevia, deslizavam no negro, no silêncio, no subterrâneo da minha mente, nas ruas paralelas, que nasciam no meu peito e desembocavam em pracetas esquecidas e escuras para ninguém ver, para ninguém ler.
Mas, hoje, não tenho mais vergonha. São lindas aquelas letras, são maravilhosas aquelas frases, a forma como se abraçam e entrelaçam, como se choram e desunham e se gritam e se atropelam. Elas só quiseram sair, precisavam de sair, dar vazão à maré cheia que não cabia mais dentro do espaço que se apertava e reprimia numa garganta apertada, silenciada...
São parte de mim, da minha identidade, da minha história...
E foi quando eu aceitei que elas, as palavras, e ela, a dor, eram livres para sair, que foram saindo, timidamente, pé ante pé, quase em silêncio...só se ouvia um gemido miudinho, que transmutava para um riso, de uma criança traquina, que corre descalça na relva molhada às escondidas dos pais, vivendo aquele momento de uma forma única e livre...
E nesse instantea dor encontra-se, sem saber como, no meio dessa mesma relva molhada, tomada por uma excitação tão fora do normal, sem saber se recua ou continua, se tem ou não direito a sentir aquela liberdade e vai caminhando devagarinho. Tira as botas de couro, as meias de lã e toca com o pés nus na relva e a sensação é tão, tão leve, que fica estagnada a sentir o fresco da água nos pés enquanto observa a menina ao fundo a correr, a saltar e a rir.
Depois aproxima-se e apresenta-se, dizendo chamar-se Amor e leva-a pela mão, limpando-lhe as lágrimas e mostrando um caminho novo.
As duas caminham devagar, como se o tempo tivesse parado e deitam-se no chão e rebolam...Sentem-se livres!!

A menina amor, mostra um caminho novo à dor, levando-a à beira de um monte alto, com um rio lá em baixo. O amor pede à dor que lhe dê a mão e salte com ela...e saltam as duas, no vazio, no escuro, no desconhecido, num salto de fé, sabendo que no outro lado estará uma nova margem...

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