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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A Ilusão de Ser

Encontro-me aqui, mais uma vez
Como tantas e tantas vezes
Perdida em pensamentos
Voando entre o real e o sonho
Ouvindo os sentimentos
A que tantas vezes me oponho

Sinto-me só,
No meio de tantas letras
É como se novamente fosse criança

Preciso que o mundo me abrace
Preciso de abraçar o mundo
Preciso deste enlace
Nem que seja por um segundo

Porquê tanto desencontro?
Só procuro um lugar
A que possa pertencer
Onde estrelas de mãos dadas
Se espalham pelo ar
E me cantam canções de embalar
Até que se dissolvam os nadas
E o sono tome o seu lugar

Só procuro a minha voz
O propósito, o caminho
Nesta vida tão veloz
Em que devagarinho,
Definho
Por ter medo do destino
Por precisar de um carinho
E não saber encontrar
Nos olhos de quem procuro
Um porto seguro, um lugar,
Onde possa por fim,
Ver para além deste muro
E esta solidão aquietar…

Fora de mim…

Estou sentada
Numa cadeira
Em frente a uma mesa
Num quintal
de amarelas paredes
E um poço
de água salobra
É noite
Há silêncio
O mar
 balança-se
ao fundo
Cantam as ondas
As mesmas pautas
 repetidas
Transformam-se em espuma
Que invade a areia
 e deixa marcas brancas
Fecho os olhos
e sinto
O cheiro,
Sinto o frio
nos pés
A aridez da areia
A rugosidade
das conchas
Já desgastadas
 pelas marcas do tempo
Aqui estou
De caneta na mão
A escorregar a tinta
Em folhas muito antes escritas
Com palavras de fumo
E pensamentos de vento
Aqui estou e sou
Sinto, permaneço e vou.




Não tenho culpa

Não tenho culpa
de sentir culpa!
Mas procuro sempre
uma desculpa,
que alimente
a semente
de um nada
Que me faz
Sentir culpada!

Escuro

No silêncio destas 4 paredes
A chaves trancadas
Ouço a vida
A correr lá fora
Enquanto procuro
As raízes do sono
Para as regar
Com o cansaço mental
Que me ciceroniza!
A noite correu
Através das solitárias horas
Perdidas no meio
De palavras sem nexo
Para dar lugar
Ao dia e à claridade
Que afugento
Quando fecho a janela
Ignorando o dia que nasce!
Quem me dera
Que pelo menos um dia
Conseguisse ser normal!


Um quadro!

Há um olhar
que timidamente,
Se esconde…
Na fresta de uma
janela
que cheira a tempo
Enquanto,
lá fora,
as ondas engolem
a areia que se dá!
Um quadro!
A óleo pintado!
Sempre inacabado
por falta de tinta!

A menina que sou!

Preciso escrever
Sinto saudades
Da lua
Que se enche em mim
De vez em quando
Do nevoeiro
Que trespassa
Os meus pensamentos
Como um estranho
Das folhas
Secas
Caídas
Em que componho o
Outono

Preciso escrever
Falta-me o ar
Saí de mim
E agora,
Não sei como voltar

Recuo os ponteiros
Do relógio
Até aos paus de cera
Às pontas de feltro
Aos lápis de carvão
Aos livros pintados
E rabiscados
Às palavras que queriam
Sair de mim
Mesmo antes de as conhecer



E nesse tempo
Em que os sonhos
Eram gigantes de mim
E o mundo
Era da cor que eu pintava
Eu aconchego-me
De peluches e almofadas
Fecho os olhos
E atravesso as horas
Os dias
Os anos
Acordo a paz
Que de mim se perdeu
Ao perceber que nunca
Deixei de ser Eu!


Há algo em mim que me diz…

No meio do silêncio
Que engulo
Consecutivamente…
Anulo,
O ruído insistente…
Estrangulo
A calma
Que recobra o ar,
Desesperadamente…

Há algo em mim,
Que clama,
Em desvario…
Por um dia,
Na pele de um rio…

Há algo em mim
Que cobra
Dívidas e dividendos,
Farejando
E discernindo
Desculpas e fundamentos

Há algo em mim
Que grita sons putrefactos
Em ouvidos descalços,
Sem sapatos





Há algo em mim
Que me diz
Que nada
Do que eu fiz
Ou quis
Foi reclamado
De peito aberto
Bebendo coragem
E valentia

Há algo em mim
Que profere
Que os meus sonhos
Permanecem
Atracados num porto
Que se esquecem
Deles mesmos
Num quadro
Absorto

Há algo em mim
Que desaloja a saudade
E aprisiona
As lembranças…
Lança lanças
De penitência
Congelando
A saliência
De absurdos
Que a mente produz…




Há algo em mim
Que me diz
Que eu posso ser balão
Que me segreda
Ardis febris
Enrolados
Em algodão…


Há algo em mim
Que padece de voz!
Que desembainha,
Novelos de nós,
Que à minha volta,
Se personificam
Inanimados…
Nos sonhos atracados,
À espera
Do porvir…

Há algo em mim
Que me queima
Nas esquinas
Do entretanto!
E mesmo assim…
As pernas,
Cretinas,
Permanecem
Parte do chão!
E eu,
Não me levanto!

O presente não se vive

Um céu de nuvens pintado
Uma luz que aquece
Um odor tacteado
Árido e rugoso
O mesmo dia que permanece
Até que volte a ser ontem
Um batimento espaçoso
No segundo que se mantém
Sempre muito ansioso
Pelo futuro que não vem

Tenho medo

Tenho medo
Quando os sentimentos
São confusos
Quando as palavras
Me fogem
Quando a tinta da caneta
Não escorrega,
No papel
Ao sabor da liberdade.
Tenho medo
de me perder
Tenho medo
de não me saber encontrar
Tenho medo
de fugir de mim própria
De não saber quem sou
Tenho medo que a vida
Me transforme
Que perca a capacidade
De sonhar
Tenho medo
dos dias de tempestade
Do som da trovoada
A bater à minha porta
Tenho medo
dos dias
E das noites
sem rumo
Tenho medo
que os sonhos
Se transformem em fumo
Tenho medo
de amanhã acordar
E não ser mais eu…

Escrever Poesia

Escrever poesia é mais que construir versos…
É sentir a arritmia,
Penetrar a alquimia
Ouvir sons desconexos…

Escrever poesia…
Não é apenas juntar palavras,
Ou fazer rimas…
É entrar num mundo desconhecido
Sentir coisas nunca sentidas
Inventar sons e emoções
Despertar o perecido
Embalar os corações…
É ir onde ninguém foi…
Viver o que nunca foi vivido
É encontrar num recanto esquecido…
Memórias de uma vida presente!

Escrever poesia…
É falar muitas línguas…
Viajar para muitos lugares
Tocar uma nuvem,
Afagar uma estrela…
Conhecer olhares,
Falar com eles…
É beijar o infinito…

Escrever poesia…
É solidão, é fuga, é corrosão…
É ser balão,
Cada vez mais cheio,
Cada vez mais alto,
Cada vez mais solto…

Escrever poesia…
É soltar as amarras…
Encarnar a garra…
Esquecer o tempo…
É ser invadido, possuído…
Despersonalizado…

Escrever poesia é morrer nascendo…
É peito que enche e grita…
É não saber quem se é…
É ser parte de tudo
É viver à margem…
É Liberdade …