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quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Unicidade e diferença


Há coisas que definitivamente nos passam ao lado. Os dias vão passando, a vida sucede-se e de uma forma quase imperceptível, forças há que limam as nossas arestas de uma forma gradual e progressiva e nos fazem crescer…quem é que nos dias que correm tem tempo para olhar dentro de si próprio e perceber quando as mudanças ocorrem? Quem consegue situar o momento em que deixou de gatinhar para começar a andar, ou o momento em que deixou de ser criança para começar a ser mulher/homem? Quem se deu verdadeiramente conta quando deixou ter os brinquedos como companhia e começou a experimentar diferentes personagens na vida real até se ir lentamente descobrindo e começando uma construção que leva toda uma vida: a construção da nossa identidade?
Agimos de uma forma tão standard, na sua generalidade, que não prestamos atenção em pequenos detalhes que são tão importantes e que são o verdadeiro milagre da vida…a transformação, a adaptação, a construção…o emergir… é como vermos um pintainho sair de dentro do ovo…e dar os seus primeiros passos…
Dentro de cada um de nós está um poço de sensações e descobertas que são únicas e preciosas e quantos de nós se perdem na vida procurando por respostas e nem por um momento param para olhar para o seu interior, constatando que é lá que está a resposta…
É triste reconhecer que a grande maioria das pessoas acaba por falecer sem se conhecer verdadeiramente porque durante toda a sua vida acreditaram que eram iguais a todos os outros e nunca deixaram que a emoção, a sensibilidade fizessem parte dos seus dias, por achar que isso só atrapalharia, que demonstraria fragilidade…
A verdade é que cada um de nós é um ser único, semelhante, mas cheio de diferenças, que completam a nossa unicidade…a forma como pensamos, como vemos, como sentimos, como amamos…os significados que atribuímos a gestos, a momentos, as lembranças e recordações que guardamos dentro de nós e tantas outras coisas que são só nossas, porque não existe ninguém no mundo que as vivencie e sinta como nós…
Então, penso, afinal de contas qual é o nosso papel aqui? De que vale termos a enorme dádiva de vivermos para além da realidade, termos sonhos, ilusões, sensibilidade, 5 sentidos para absorver tudo ao nosso redor…se permanecem fechados, ignorando todas estas possibilidades?
Nascimento…ser protegido, acarinhado… aprender na escola…ser adolescente…descobrir que o coração pode bater mais forte…arranjar um trabalho…
Comprar uma casa…casar…ter filhos…viajar…ver os filhos crescer…ter netos…pertencer a uma comunidade...envelhecer…este é um modo simplista e talvez egoísta de analisar a vida, mas é assim que a maioria das pessoas passa pela vida, não vivendo, mas sobrevivendo.
É mais importante mostrar aos outros o que eles querem ver, do que nos tentarmos conhecer e afirmarmos a nossa identidade…e no fundo é tão mais fácil…
Mas se perdermos um pouco de tempo a tentar conhecermo-nos a nós mesmos iremos descobrir o que dá sentido à nossa vida e veremos o “outro” de maneira diferente, porque ao nos apercebermos do que vai dentro de nós ganhamos uma nova visão sobre aqueles que nos rodeiam. E assim a vida tem um outro sabor…pois olhar para dentro de nós próprios é conhecermos um mundo que só tem uma morada: a praceta do coração…

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